O Legado da Greve Geral de 1917

Christina da Silva Roquette Lopreato* 

A mulher militante no palanque fala à multidão. Solidariedade aos grevistas, ela clama! Destemida e indômita, instiga os trabalhadores recalcitrantes a aderirem ao movimento grevista. À Greve Geral!, ela incita.

A morte de José Ineguez Martinez, durante confronto entre grevistas e forças policiais no dia 9 de julho de 1917, provoca forte comoção entre os trabalhadores. Durante o cortejo fúnebre que atravessa as ruas da capital paulista, bandeiras anarquistas tremulam no meio da multidão que acompanha o féretro. A morte do sapateiro espanhol de 21 anos dá vida ao movimento grevista. O Comitê de Defesa Proletária (CDP) se forma para formular a pauta de reivindicações e orientar os trabalhadores em greve. Quando as reivindicações dirigidas aos patrões e ao governo se tornaram pública, em 12 de julho, a cidade parou. Amanheceu sem pão, sem leite, sem gás, sem luz, sem transporte. Nada funcionou na Pauliceia. A greve geral estava declarada. Uma convulsão social sem precedentes se inscrevia na história do Brasil.

A tensão se eleva. Mulheres grevistas lançam um apelo aos soldados conclamando-os a não atirarem nos seus irmãos de miséria e a se irmanarem na luta pela conquista de melhores condições de vida e de trabalho.

Impasse nas negociações. Uma Comissão de Imprensa é formada para intermediar o conflito. O acordo é firmado com representantes do CDP, anarquistas em sua maioria. Mas a decisão de suspender a greve geral é tomada em praça pública pelos grevistas, no dia 16 de julho. A vitória do operariado é estampada nas manchetes dos jornais paulistanos.

Mais do que a vitória econômica, os trabalhadores adquiriram consciência de si e de sua força. Doravante, a questão operária deixou de ser considerada questão de ordem pública e foi reconhecida na sua dimensão social e política ao ser incluída na plataforma de candidatos eletivos, como na campanha presidencial de Rui Barbosa, em 1919.

100 anos depois, o legado da greve geral de 1917 nos ajuda a refletir sobre a importância de se (re)pensar novas regras de convivência social que permitam ao Brasil ser um país de todos.

 

O texto é parte da publicação Livro Texto, abaixo.