O que falaram sobre o Borda

Fábio Morais, artista: “Vejo o Borda como a prática artística da Fernanda Grigolin, sua criadora e editora. Editar como atividade artística é belo e complexo, algo que surpreende tanto o circuito de arte quanto o circuito editorial. Esse “entre” o artístico e o editorial dispensa as legitimações dos dois lados e assume a estranheza simples e direta do equilíbrio em corda bamba, lá no alto, sobre ambos.

O mundo é rápido, o golpe foi rápido, o avanço fascista está rápido, o desmonte do estado social está sendo rápido, os retrocessos são rápidos, a volta à posição colonial está sendo rápida, o neoliberalismo é rápido ao assaltar nossa vida e jogar a culpa no assaltante de rua. Um jornal como prática artística tem a vantagem de poder ser uma atividade editorial sem formato estanque, adaptável à contingência e à urgência do entorno e do momento, como é toda prática artística que se prese e não seja um auto-artesanato. Guerrilhas – sejam de enfrentamento físico, discursivo ou simbólico – têm de ser rápidas. Participei dos três primeiros Bordas e saí porque achei que o Borda é algo em movimento e o que eu podia contribuir era algo parado naquilo que propus. O borda movimenta-se rápido. Agora, como leitor, corro (leio) atrás.

Participei dos três primeiros Bordas como “colunista”. As aspas é porque esse foi o convite que me foi feito pela Fernanda Grigolin. Então eu lhe disse que queria pensar o jornal como um lugar onde eu instalasse um texto, um espaço expositivo no qual o escrever se organizasse não só pela sintaxe do idioma, mas também por uma sintaxe imagética e objetual. A Fernanda me deu carta branca e nos três primeiros Bordas pude experimentar de um jeito que ainda reverbera no que faço. No Borda 1, escrevi um texto para ser instalado na dobra do jornal. No Borda 2, propus uma escrita gráfica que foi instalada na capa. No borda 3, escrevi um texto imagético que, embora pareça comportado na página, pede que se gire o jornal para lê-lo. Os dois últimos trabalhos foram depois para as paredes de um espaço expositivo. Sou grato à liberdade cúmplice que o Borda deu-me para experimentar”.