A mulher é uma degenerada, 2018

Quem foi Maria Lacerda de Moura

 Maria Lacerda de Moura (1887-1945) foi pensadora anarquista brasileira e pacifista. Precursora do anarcofeminismo, sendo extremamente ativa em sua época e lida por intelectuais, militantes e escritores tanto do Brasil quanto do exterior. Maria Lacerda publicou mais de vinte livros, entre eles Renovação (1919), A mulher e a maçonaria (1922), A fraternidade na escola (1922), A mulher é uma degenerada (1924), Religião do amor e da beleza (1926), Amai e… não vos multipliqueis (1932), Fascismo: filho dileto da igreja e do capital (1933). Foi editora da revista Renascença.

Sobre A mulher é uma degenerada

Uma das grandes novidades do pensamento de Maria Lacerda é a crítica à moral sexual de sua época e ao regime de verdades hegemônico com a imposição da identidade mulher, asséptica e higienizada, a afirmação é da professora titular da Unicamp Margareth Rago. “As bandeiras da luta da anarcofeminista Maria Lacerda de Moura só serão retomadas pelo movimento feminista na década de 1970, sem necessariamente alguma referência inicial a ela, já que, apenas nos anos de 1980, passamos a tomar contato com sua história e escritos, ainda hoje de difícil acesso”, explica Rago.


A edição de 2018 de A mulher é uma degenerada possui 320 páginas, que incluem o livro original em fac-símile, textos inéditos de pessoas convidadas, estudo gráfico e intervenção artística. A organização e edição são de Fernanda Grigolin, capa e projeto gráfico de Laura Daviña e comentários de pessoas que estudam e possuem uma relação com a obra de Maria Lacerda, como a já citada Margareth Rago; a pesquisadora especializada na história das mulheres anarquistas na Primeira República e sua relação com o anarcossindicalismo Samanta Colhado Mendes; a anarcofeminista e pesquisadora do Núcleo de Estudos Libertários Carlo Aldegheri, Juliana Santos Alves de Vasconcelos, a historiadora e pesquisadora independente de sexualidade e anarcofeminista Carolina O. Ressurreição e as anarcofeministas Eloisa Torrão e Marina Mayumi.

Além dos comentários, no livro está contida uma carta a Maria Lacerda de Moura escrita pela Mulher do Canto Esquerdo do Quadro, a narradora de uma pesquisa em arte que Fernanda Grigolin realiza. O conselho editorial é composto por Antonio Carlos Oliveira e Maria de Moraes, e a pesquisa de fontes primárias foi feita no Arquivo Edgard Leuenroth (AEL- IFCH/Unicamp), na Biblioteca Terra Livre, no Centro de Cultura Social e no Núcleo de Estudos Libertários Carlo Aldegheri.

A mulher é uma degenerada é um entre tantos livros e é, seguramente, o mais conhecido de Maria Lacerda de Moura. Desde 1932 não havia notícia de uma nova edição. A última edição em vida da autora foi por ela revisada e inclui cartas enviadas por pessoas que leram o livro. Há impressões de Roquette Pinto e trechos do texto da poeta Gilka Machado, por exemplo. O trecho da carta de Gilka a Maria Lacerda de Moura é particularmente interessante: “quando a miséria nos acirra, é inútil recorrer a uma patrícia: ela não tem noção da caridade (que eu diria, solidariedade), do dever humano e só protege em dias determinados, por meio de chás concertos e requebros de tango; para elas a desgraça sempre é motivo de divertimento”.

Mais alguns trechos do livro:

Quantas grandes almas femininas por este mundo afora, desejam ardentemente o filho não desejando absolutamente o marido!… E essas, justamente, são as chamadas “emancipadas”, as inteligentes, as de carater, as que se não sujeitam ao jugo do senhor mediocre e presunçoso, muito abaixo delas, entretanto, sujeitar se-iam gostosamente ao jugo da maternidade absorvente.

É ao caráter feminino que atacam, é o combate à rebeldia e à superioridade moral, à insubmissão, ao anseio de liberdade e Amor – na mais ampla significação da palavra.

Os homens têm tido por objetivo conservar a irresponsabilidade feminina, a eterna futilidade do sexo, porquanto assim é mais fácil comprá-la com bombons e rendas e leques e pérolas….

As exceções femininas provam que a mulher se faz por si mesma e, para isso, precisa acotovelar os preconceitos e voar o pensamento para além das pequeninas minudências da vida e das futilidades sociais.

Eu não discuto com um homem apenas, com o sr. Bombarda, com Lombroso, ou com Ferri: protesto contra a opinião anti-feminista de que – a mulher nasceu exclusivamente para ser mãe, para o lar, para brincar com o homem, para diverti-lo. O sr. Bombarda foi o pretexto.

A mulher é fisiologicamente diferente do homem – não inferior. Sua inferioridade é apenas econômico-social, inferioridade de preconceito.

A criança e a mulher proletárias são os entes mais prejudicados pelo capitalismo, pelo industrialismo moderno…

Lançado no Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro, Foz do Iguaçu e Campinas) e na Argentina (Buenos Aires), o livro foi vendido para pessoas do mundo todo. Muito Obrigada a todas as pessoas que estiveram conosco.

Distribuição gratuita e anarquismo: 30% da cota foi distribuída gratuitamente para coletivos anarquistas, bibliotecas e grupos anarcofeministas. Apenas para o Centro de Cultura Social foram disponibilizadas 65 unidades.

Acesse o pdf completo do livro aqui



Receba as novidades, deixe seu e-mail no formulário abaixo.