Fascismo: definição e história

 A publicação é um feito de três editoras – microutopías, Publication Studio e Tenda de Livros (pela Série Aquela Mulher) – e saiu em versões em português e espanhol. A obra foi traduzida do espanhol: é a primeira vez que é editada em português. As três editoras também lançam simultaneamente uma edição em espanhol.

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Fascismo: definição e história

“Para capturar as características diferenciais do fascismo, dentro desse processo desencadeado pela fome de poder que leva ao totalitarismo, temos que pesquisá-lo em sua primeira fase, durante a qual se cria um estilo facilmente reconhecível, repetido de maneira análoga (falangismo, o stalinismo, o peronismo, OAS, macarthismo, Ku Klux Klan, surtos nazistoides e de antissemitismo etc.): essas condições definitórias são todas derivadas de seu impulso conservador, contrarrevolucionário diante de uma revolução iminente. Crueldade, adoração ao super-homem, desprezo pelo homem e sua liberdade (e o desprezo é, nesse caso, como o ódio que o acompanha, pobre disfarce do medo), o horror como arma; todos são o fruto e o sintoma de uma atitude desesperada de agarrar-se a um pedestal que se desmancha em ruínas. São grupos sociais que já gastaram os ideais que os levaram ao poder e se encontram exaustos espiritual e fisicamente, assim como todos os setores da população que ocuparam posições de liderança, política ou econômica, por muitas gerações e agora, oprimidos pelo pânico do colapso, encontram-se vazios de recursos que não sejam os da força bestial”.

Luce Fabbri (Fascismo: definição e história)

A tradução, feita por Rodrigo Millán e Fernanda Grigolin, foi desenvolvida com calma e muita discussão. Do processo surgiram elementos essenciais para compreender, de fato, o pensamento de Luce. A obra é publicada em português e em espanhol com o mesmo tratamento textual e editorial, e uma pequena diferença, que são os poemas presentes nos marcadores de livro e trazidos por Tita Mundo e A mulher do Canto Esquerdo do Quadro. Foram escolhidas poesias distintas da autora, que, além de professora e pensadora anarquista, compunha poemas:

As palavras novas*

Cada palavra assenta sua carne.
Eu queria tatear na mata
do mundo das palavras transparentes,
palavras de ar,
para ler, para escrever, para dizer,
para projetar na escuridão a teia,
mas que não pesem
E que não abandonem sombra sobre a via.

Essas palavras, amigos, não existem,
Mas há no caos algo que as circunda,
Algo que possui potência para criá-las.
E, assim, cantarei com elas, finalmente,
cantarei, finalmente um canto de vitória.

Luce Fabbri

*Tradução do poema por Aquela Mulher do Canto esquerdo do Quadro

O opúsculo

A publicação gira em torno da tese dos Fabbri e também é um reencontro de Luce com suas memórias juvenis e suas leituras de vida adulta sobre o fascismo. Escrito em 1963, quando Luce tinha 55 anos e quase 30 anos depois do seu livro mais famoso (Camisas Negras), “O fascismo: definição e história” é um suporte condensado de reflexões antifascistas. O momento atual demanda estudar a obra de Luce Fabbri, que tem muito a nos ensinar sobre cotidianidade e resistência. Um dos posfácios do livro é assinado por Margareth Rago, que se debruça sobre a história de Luce Fabbri há pelo menos duas décadas: em seu texto, destaca-se a importância por uma vida antifascista, de resistência cotidiana.

Sobre a coedição

em 2018 a equipe editorial iniciou uma conversa sobre publicar a pensadora anarquista. A primeira ideia era fazer uma edição fac-símile de Camisas Negras (1934), aos moldes da feita pela Série Aquela Mulher/Tenda de Livros com o livro de Maria Lacerda de Moura (A mulher é uma degenerada). “Porém, um livro é um trabalho coletivo, e cada projeto pede uma solução”, explicam Darío Marroche e Fernanda Grigolin.

A conversa sobre a coedição foi crescendo, tomando forma e conteúdo. Nas buscas em Montevidéu, Darío Marroche encontrou em um sebo o opúsculo El fascismo, definición e historia (1963). Diferente de Camisas Negras, de 276 páginas, El fascismo era mais sintético e num formato muito similar às antigas publicações que os anarquistas faziam para leitura e prática coletivas. Para os editores foi uma descoberta maravilhosa: “decidimos que seria esse o nosso livro, o nosso lugar de experiência individual e coletiva”.

O texto de Luce fomenta o debate e a reflexão a partir de uma história atravessada pela vivência pessoal, em que o testemunho de uma mulher antifascista nos faz compreender uma época — assim como as repetições históricas e cíclicas do capitalismo. Marroche e Grigolin acreditam que há uma conexão entre o que Luce presenciou com os dias atuais:

Nós nos conectamos em luta com quem já passou algo similar ao que estamos vivendo hoje, dia a dia, em nossos países do Cone Sul. Decidimos que a publicação teria esse público regional, atravessaria, mesmo que em tentativa, as nossas fronteiras, que são muito mais que geográficas. O espaço permeia nossos corpos, nossos símbolos, e nos reconhecer além de nacionalidades é fortalecer-nos em ações práticas, simbólicas e afetivas contra o perigo fascista. Porém, não podemos esquecer que, como bem diz Luce ao finalizar o texto, ‘As únicas defesas reais contra esse múltiplo e complexo perigo estão em cada um, na racionalidade e na espontaneidade de cada um, nessa responsabilidade ativa de cada ser humano em relação aos outros, que é ao mesmo tempo um afirmar-se como indivíduo e um entregar-se ao coletivo’.”

A equipe editorial almejava uma experiência alargada desde o Cone Sul, então, o projeto só existiria se isso fosse posto em movimento. “Aos poucos fomos compreendendo como seria o livro: a construção coletiva do trabalho a ser realizado, o encontro com o texto, a tradução, as decisões de formatação, a forma, a tipografia feita especialmente para o livro por Laura Daviña, e que será de uso livre. Desde o início Laura estava conosco; e, em cada reunião dos três juntos, o livro se presentificava, às vezes as funções se confundiam, natural para um processo aberto, horizontal e transparente. Mesmo que virtualmente, o conselho editorial – Ivanna Margarucci, Renata Cotrim e Thiago Lemos – e os autores convidados – Elena Schembri, Gerardo Garay e Margareth Rago – estiveram presentes em uma metodologia que respeita o conteúdo individual e coletivamente. No processo percebemos que seria interessante mais um texto, por isso Ivanna e Thiago escrevem o último texto da publicação. Também estiveram na equipe as revisoras textuais – Ieda Lebensztayn e Valeria Mata – e as revisoras técnicas – Cibele Troyano e Flor Pastorella”, comentam Darío e Fernanda.

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O livro foi lançado em Montevideo ( Congresso de Pesquisadores em Anarquismo, julho de 2019), São Paulo (Centro de Cultura Social, agosto de 2019). Houve um debate em Patos de Minas e leitura na Feira Anarquista de São Paulo.